Opções de "folhagem" para árvores em maquete de ferreomodelismo
Opções de “folhagem” para árvores em maquete (ver no final)

Maquetes de ferreomodelismo
Fazendo árvores de arame ou fio elétrico

Antônio Marcello Silva
Centro-Oeste nº 85 - 1º Dez. 1993

Modelar árvores é uma das ocupações típicas do hobbista que não se contenta em rodar seus trens por ferrovias completamente divorciadas da realidade, quer por falta de cenário, quer por se cercarem de uns poucos morros, construções e arremedos de árvores, dispostos aleatoriamente sobre a base da maquete.

Além do prazer de criar — sem dúvida um bálsamo para o espírito — justifica essa atividade o fato de que as árvores comerciais via de regra são estereotipadas, inaturais, feias e caras.

Diversamente, as artesanais — quando feitas com zelo e carinho — são variadas, mais verossímeis e bonitas como se vê na foto da Capa, podendo ainda ser bem baratas se produzidas em quantidade.

Ao contrário do que muita gente pensa, a execução de árvores para maquete não requer talento especial, mas apenas paciência, capricho e certa dose de observação e bom gosto.

E, desde que o material necessário esteja à mão, é possível fazer umas 50 ou 60 delas num único final de semana, usando arame ou fio elétrico como elemento estrutural.

Para o esqueleto de árvores Z ou de pequenas árvores N, uso fio de 0,1 a 0,5 mm de espessura, retirado de bobinas de transformadores queimados. O mostrado na foto n° 1 é novo, n° 36, de 0,127 mm.

Para árvores N mais encorpadas ou pequenas árvores HO, uso fio n° 30, de 0,25 mm, retirados dos fios flexíveis usados nas instalações elétricas; ou arame n° 28, de 0,3 mm.

Para árvores HO maiores, o mais indicado é o arame n° 26, de 0,4 mm de espessura.

Material

  • 1 pedaço de ripa de tamanho adequado

  • 2 pregos 8x8 ou 10x10

  • Fio elétrico ou arame da espessura indicada ao caso

  • Fragmentos de espuma ou líquen, verdes

  • Pedaços de isopor de pelo menos 2 cm de espessura, cortados em tronco de pirâmide quadrangular

  • Quadrados de cartolina de lado no mínimo 1 cm maior que o da base das pirâmides de isopor

  • 2 recipientes de boca larga de 500 ml — latas vazias de Nescau, por exemplo

  • 2 frascos de 250 ml de Modeling Paste, da Acrilex, encontrada em casas fornecedoras para artistas plásticos

  • Tinta latex (Suvinil, Coraltex etc.) nas cores branca e preta

  • Corante universal ou específico para tinta latex (Coralcor, Xadrez, Suvinil Corante etc.) nas cores verde e marrom

  • Pó de serragem ou de espuma na cor verde desejada

  • Cola branca, Matte Varnish da Acrilex, pinça, pincel redondo pequeno, polvilhador e pulverizador pequenos (cf. "Engenhocas e utensílios para decorar mini-ferrovias", no CO-84/16, foto n° 1)

Notas [2010]:

1. Os flocos de espuma podem ser substituídos por tufos de líquen e o seu pó pelo de serragem, cujo efeito, todavia, é mais grosseiro.

2. A tinta látex e o corante universal podem ser substituídos por tintas de PVA para artesanato, da Acrilex, por exemplo, que são solúveis em água e miscíveis entre si.

3. Veja abaixo, em Técnicas Correlatas, como fazer flocos e pó de espuma, como preparar o verniz acrílico para ser usado no borrifador e como processar o líquen.

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Preparação

Foto 1 - Preparação dos troncos para as árvores
Foto 1 - Preparação dos troncos para as árvores

1 — Marca-se na ripa a distância a que os pregos deverão ficar um do outro, a qual é determinada pela altura da árvore que se deseja modelar, obedecida a escala em que se está trabalhando.

Na Foto n° 1, A, essa distância é de 3 cm, própria para árvores Z de 5 a 7 metros de altura. Perde-se metade desses 3 cm com a torcida dos fios, a curvatura dos ramos e a parte introduzida no isopor. Essa perda é compensada e complementada pela copa, de modo que no final a arvorezinha terá de 2,5 a 3,5 cm de altura na maquete.

Para se obter o mesmo resultado nas escalas N e HO, a distância entre os pregos será cerca de 4 e 7,5 cm, respectivamente.

2 — Introduzem-se os 2 pregos nos locais marcado na ripa, deixando cerca de 8 mm de fora, e cortam-se-lhes as cabeças para facilitar a retirada da meada de fios no momento oportuno.

O ideal é cortar as cabeças primeiro, limar as áreas liberadas para suprimir as rebarbas, e introduzir os pregos em orifícios previamente abertos com uma broca de diâmetro 0,1 mm inferior ao deles.

3 — Num dos recipientes de boca larga prepara-se a Modeling Paste, diluindo-a em água na proporção de 1 para 1/3, ou seja, um frasco e meio de massa em meio frasco de água, totalizando 500 ml. Mexa bem com uma vareta até convertê-la numa pasta semi-líquida.

4 — Mistura-se a gosto o latex preto com o branco, a fim de obter um cinza de médio a escuro, ao qual se acrescentam gotas dos corantes verde e marrom para matizá-lo, também a gosto. Despeja-se o resultado dessa mistura no outro recipiente de boca larga, até a metade, completando com água e mexendo bem para homogeneizá-la.

5 — Dilui-se 1 parte do Matte Varnish — que é um gel — em 3 partes de água e, depois de mexer muito bem, coloca-se uma parte desta solução no vaporizador.

Como fazer

O procedimento para a modelagem de árvores de arame ou fio elétrico é o seguinte, de acordo com a seqüência mostrada na Foto n° 1 (acima) e na Foto nº 2 (abaixo):

Foto 1 - A — Com a ponta presa num dos pregos, passa-se o fio ou arame de um para outro, sucessivamente, tantas vezes quantas o porte da árvore e o número de galhos exigirem. O importante é que a operação termine no mesmo prego por onde começou, de modo a obter uma meada com número par de fios — no caso, 12 para uma árvore Z de porte médio e 6 ramos principais.

Foto 1 - B — Tira-se a meada dos pregos, dá-se uma boa torcida numa das extremidades para formar o tronco, e apara-se a outra para libertar os fios, que deverão ser torcidos 2 a 2, deixando nas pontas uma pequena forquilha para facilitar a fixação dos fragmentos de espuma ou líquen que irão compor a copa.

Estes ramos ainda podem ser torcidos em grupos de 2 ou 3 para simular a continuação do tronco ou galhos mais grossos.

A maioria das árvores — principalmente as frutíferas e as urbanas — não apresenta raízes expostas, mas se o hobista as desejar pode separar uns 3 ou 4 fios até 5 mm da extremidade inferior e dar-lhes o formato de raízes.

Foto 1 - C — Concluído o esqueleto da árvore, introduz-se a extremidade inferior — com um pouco de cola branca — no ápice de um dos troncos de pirâmide, previamente furados para este fim.

No final, quando a árvore for retirada do isopor para o "plantio", seu "pé" poderá ser umedecido para amolecer a cola e facilitar a remoção dos fragmentos eventualmente aderidos a ele, com um canivete, faca Olfa ou instrumento assemelhado.

Foto 1 - D — Segurando o suporte de isopor pela base, introduz-se a estrutura da árvore na Modeling Paste, retirando o excesso com o pincel.

Esta operação deve ser repetida pelo menos uma vez, com intervalos de 60 a 90 minutos, principalmente quando a estrutura é de fio envernizado (como o da foto), no qual a pasta não pega com facilidade.

Depois do segundo, o tronco e os galhos tendem a engrossar cada vez mais, a cada banho, podendo ser trabalhados a pincel para simular árvores retorcidas ou encarquilhadas.

Foto 1 - E — Decorridos 60 ou 90 minutos da última demão de pasta, mergulha-se a estrutura na tinta cinzenta, para lhe dar cor. O excesso de tinta é eliminado também a pincel, mas deve-se evitar um segundo banho para não afetar as manchas esbranquiçadas que conferem um ar natural ao tronco e aos ramos.

A armação pode ser pintada a pincel, se você preferir usar tinta para artesanato (ver nota 2 do tópico Material) ou trabalhar com a tinta látex não diluída.

Acrescentando a folhagem (I)

Foto 2 - F — Três ou 4 horas após a pintura já se pode formar a copa da árvore, colando com cola branca os pedaços de espuma ou líquen nas forquilhas dos ramos. No caso da espuma nunca se deve usar um só pedaço grande para a copa pois, por mais que seja picado e repicado — com os dedos ou pinça — o efeito é sempre negativo.

Foto 2 - G — No dia seguinte fixa-se o suporte de isopor num quadrado de cartolina — com fita adesiva dupla face, p. ex. — deixando abas que permitam segurar o conjunto com a pinça. Feito isso, vaporiza-se a copa com o Matte Varnish. Depois de retirar com pincel o que respingou nos ramos e tronco, polvilha-se o pó de serra por toda a copa da arvorezinha — na parte superior, na inferior e nas laterais.

Foto 2 - H — O líquen proporciona à folhagem um efeito muito mais natural do que a espuma. Infelizmente esse material não é beneficiado e comercializado no Brasil, de modo que só mediante importação se pode ter acesso a ele.

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Como plantar

O "plantio" das árvores de arame é muito simples: — Basta furar no local escolhido com um furador do mesmo diâmetro do "pé" a ser enterrado. Pode-se usar um prego montado na ponta de uma vareta.

O "pé" da árvore é introduzido no orifício com um pouco de cola branca. O excesso de cola não precisa ser removido pois será absorvido pela "grama" ao redor. Em caso de dúvida, pode-se polvilhar um pouco de pó de serra, verde — ou marrom, se for o caso —, sobre ela.

Se o "pé" não ficar folgado no orifício, no dia seguinte a árvore estará tão firme que a folhagem — se necessário — poderá ser retocada.

Observações

1 — A tinta latex e o Matte Varnish costumam sedimentar, razão pela qual devem ser remexidos antes de usar, sempre que deixados em repouso por mais de 4 ou 5 horas. A Modeling Paste é bem mais estável, mas mesmo assim costumo revolvê-la toda vez que a deixo sem uso por mais de 24 horas.

2 — Na revista Globo Ciência de 1991/Ago (pág. 42 a 45) encontra-se uma reportagem sobre os líquens da Mata Atlântica, no sul do Estado de São Paulo. Pelas fotos coloridas que a ilustram pude deduzir que possuímos um gênero, o Cladina, muito semelhante ao líquen importado, que antigamente adquiria do Sidnei Paulo Diana, na Brinquedos Raros, R. Livramento, 285, São Paulo, SP, Tel.: 011-884-1202 e 884-0145, e que agora peço diretamente à Discount Train Warehouse, nos EUA.

Todavia, quem tiver a oportunidade de colher nosso líquen — se é que é permitido — poderá beneficiá-lo e colori-lo de acordo com a seguinte receita de Dave Frary em "How to Build Realistic Model Railroad Scenery", 1ª edição, páginas 50 a 52:

  • Limpe bem o líquen, inclusive de suas partes escuras

  • Leve ao fogo, numa vasilha grande, uma solução com 3 partes de água e 1 de glicerina barata, na qual se tenha dissolvido corante para tecidos (Tingecor ou Vivacor da Guarany, p. ex.) na cor desejada, na proporção indicada pelo fabricante. Comece pelos tom mais claro, pois o mesmo banho poderá ser reaproveitado para os mais escuros

  • Quando o líquido chegar ao ponto de fervura junte o líquen — tanto quanto a solução comportar — deixando ferver por 5 minutos.

  • Retire a vasilha do fogo e deixe esfriar

  • Quando a solução estiver relativamente fria, calce luvas de borracha e retire o líquen aos bocados, espremendo-os bem sobre a própria vasilha para não perder tintura, e espalhe-os sobre folhas de jornal para secar, revirando-os o mais que puder

  • Uns 2 ou 3 dias depois, quando já não tingir seus dedos, o líquen poderá ser empacotado em sacos plásticos

  • A tintura que sobrou poderá servir para novo tingimento, desde que se acrescente mais um pouco de glicerina e corante, de preferência mais escuro que o anterior

3 — As dicas sobre o "plantio" de árvores supõem um terreno macio, feito de papel engessado sobre papelão corrugado ou isopor. Se o colega descuidado aplicou o papel engessado sobre madeira, terá que fazer o furo com uma broca...

Nota do site - As Fotos 1 e 2 — no corpo do texto — datam da época da publicação no Centro-Oeste nº 85 (1º Dez. 1993) e são as únicas com as indicações corretas, de A até H.

As outras 2 fotos (no começo e no final) foram feitas recentemente pelo Autor, com melhor qualidade, porém com outras indicações — que vão acrescentadas no rodapé, com adendos ao texto original [FRC, 18 Nov. 2017].

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Estrutura de arame (fios) para fazer árvores em escala para maquetes de ferreomodelismo
Estrutura de arame (fios) para árvores em escala

Acrescentando a folhagem (II)

Algumas horas após a pintura, a armação estará pronta para receber a folhagem, que lhe dará o aspecto de um dos exemplares mostrados na foto no 2, de acordo com o material utilizado - ver Foto (recente) no topo da página:

F - armação de arame e folhagem de flocos de espuma artesanal (B), finalizada com pó de espuma artesanal (B).

G - armação de arame e folhagem de tufos de espuma de alta densidade, produzida pela Woodland Scenics, sob o nome de clump-foliage (C).

H - armação de plástico e folhagem de líquen processado (D), finalizada com pó de espuma artesanal (B).

I - armação de arame e folhagem de líquen processado (D), sem pó de espuma.

A fixação da folhagem na armação para formar sua copa, depois que os galhos receberam uma camada de cola branca nos lugares apropriados, pode ser feita de duas maneiras: imergindo os galhos numa vasilha contendo flocos de espuma ou aplicando-lhes porções de flocos de espuma (ou de fragmentos de líquen) uma a uma. Eu prefiro esta última por me permitir maior liberdade na modelagem da copa.

Um simples exame visual das folhagens mostradas na foto no 2 indica que as polvilhadas com pó de espuma (F e H) parecem mais verdadeiras. O pó só deve ser aplicado no dia seguinte ao da montagem das copas, de acordo com o seguinte procedimento:

1 - Fixe o suporte de isopor no centro de um quadrado de cartolina (com fita dupla face, por exemplo), de modo que sobrem abas de cerca de 5 mm de cada lado.

2 - Segure o conjunto com uma pinça de bom tamanho por uma das abas do quadrado de cartolina e vaporize a copa da árvore com verniz acrílico em todos os sentidos.

3 - Remova com um pincel seco o verniz que respingar no tronco e nos ramos, polvilhe o pó de espuma (ou de serragem, se preferir) por toda a copa ? na parte superior, na inferior e nas laterais ? e deixe-a secar bem antes de ?plantar? a árvore.

Nota: Trabalhando com líquen importado, cuja qualidade decaiu muito se comparado com o que eu costumava adquirir no princípio dos anos 90, tenha o cuidado de manter seus talos orientados para o interior da copa.

Técnicas Correlatas

Com fazer flocos e pó de espuma

1 - Corte blocos de espuma branca de 10 ou 15 mm de espessura em pedaços pequenos, como o mostrado na letra A da foto no 2 (mais ou menos 25 mm de lado).

2 - Numa vasilha de tamanho adequado (uma embalagem plástica de sorvete em massa por exemplo), prepare uma boa quantidade de tinta de PVA para artesanato no verde desejado, diluindo-a na proporção de 1 parte de tinta para 4 de água. Mexa a solução com uma espátula estreita de madeira até torná-la homogênea.

3 - Mergulhe os blocos de espuma na tinta diluída e deixe-os imersos por uns 30 segundos para que se encharquem. Retire-os e esprema-os bem entre as mãos, de preferência sobre a própria vasilha, a fim de reaproveitar a tinta escorrida.

4 - Espalhe os blocos tingidos sobre folhas de jornal para apressar a secagem, que deve ocorrer entre 24 e 48 horas, dependendo das condições climáticas.

5 - Depois de bem secos, moa os blocos numa máquina de moer carne manual (as máquinas elétricas domésticas não suportam o esforço) e passe o produto final por uma peneira fina para separar os flocos do pó. Junte a este pó o retido no corpo da máquina durante a moagem.

Notas:

1. Não esprema os flocos tingidos com as mãos nuas, pois será bastante difícil limpá-las depois. Eu costumo usar luvas cirúrgicas descartáveis, que não afetam o tato e são bem baratas.

2. Examine os flocos, após a moagem, e separe os que apresentarem superfícies planas para serem remoídos.



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