Livros sob medida para o ferreomodelista
Dois livros de pesquisa & memória ferroviária
lançados neste final de ano vão dividir o ferreomodelismo
brasileiro em "antes" e "depois"
Flávio R. Cavalcanti — Centro-Oeste nº 85
(1º-fev-1994)
O Vapor nas ferrovias do Brasil
Com mais de 185 fotos, emblemas de 32 ferrovias e 22 mapas esquemáticos
das antigas vias férreas, o livro de Benício Guimarães
é o primeiro levantamento sistemático de nossas estradas
de ferro com aplicação direta no ferreomodelismo — inclusive
resumos históricos e uma lista das primeiras locos a vapor de 35
empresas entre 1884 e 1886.
O capítulo final apresenta dados e fotos sobre as usinas de açúcar
e suas locomotivas.
O livro vai ainda mais longe. Historia para o iniciante o surgimento
das máquinas a vapor que viabilizaram as estradas de ferro.
Apresenta de forma simples e clara as designações dos tipos
e o sistema Whyte de classificação — American 4-4-0, Ten-Wheel
4-6-0, Pacific 4-6-2 etc.
As legendas das fotos ao longo do livro indicam os dados conhecidos sobre
as locomotivas, tais como rodagem, numeração, fabricação
e outros dados técnicos de maior interesse.
No capítulo sobre a EF Cantagalo, é mostrado o funcionamento
do sistema de cremalheira, utilizado em subidas muito fortes.
Não quero criar falsas expectativas, dando a entender que se trate
de um compêndio completo, super-detalhado ou luxuoso. Se você
espera encontrar plantas em escala HO ou fotos feitas especificamente
para mostrar os detalhes necessários à confecção
de modelos, poderá se decepcionar.
Quando se busca informações sobre ferrovias afastadas do
Centro-Sul, e em épocas tão remotas, sabemos que no Brasil
é preciso contar com uma parcela de fotos não muito boas,
ângulos pouco propícios, rodas na sombra, personagens da
época fazendo pose na frente de algum detalhe que gostaríamos
de ver melhor.
Da mesma forma nem todos os emblemas de todas as ferrovias puderam ser
obtidos ou apresentados. A EF Cantagalo aparece com o emblema da Leopoldina
Railway e a EF Rio D'Ouro com o da Central, por exemplo.
Ao cumprir o que os catálogos do Preserfe jamais realizaram —
cobrir praticamente todas as ferrovias que já existiram no Brasil — o autor teve que optar por um texto bastante sintético e deixar
guardadas em seu arquivo centenas de outras fotografias.
Não espere encontrar as peripécias da construção
da EF Madeira-Mamoré, a dissenção da Ituana que fez
nascer a Sorocabana, ou a disputa da Cia. Paulista com a Cia. Mogiana
nas proximidades de Casa Branca. É um livro eminentemente fotográfico,
não um texto maçudo.
Isso é mais do que compensado pelo leque de ferrovias abordadas,
tais como EF Campista, EF Príncipe do Grão-Pará,
Cia. Rio Claro, EF Perus-Pirapora, EF Monte Alto, EF Funilense, EF Bragança,
EF Goiás, as tão esquecidas ferrovias do Nordeste (em 5
capítulos) e a pouco lembrada fase antiga da EF Vitória
a Minas.
Também compensa em parte o pouco espaço dedicado às
ferrovias gaúchas — aliás muito bem apresentadas no catálogo
do Preserfe-RS, e mais tarde no livro Caminhos de Ferro do Rio Grande
do Sul, de José Roberto Souza Dias, da ABPF (Editora Rios, SP/SP).
Mas não há dúvida de que os modelistas do Rio de
Janeiro, São Paulo e Minas Gerais foram privilegiados.
O Vapor nas Ferrovias do Brasil é uma edição do
autor, sem qualquer patrocínio financeiro, e isto com certeza impôs
limites menores do que o autor e todos nós gostaríamos.
Suas 206 páginas formato 22 x 15,5 cm — com projeto gráfico
profissional — são pouco para tanta sede que o autor e os leitores
já acumulam.
Se não é uma biblioteca completa, é um ótimo
primeiro passo, inclusive aplainando o caminho para quem está iniciando
no culto do vapor. Novos livros estão em preparo.
Após ler o livro, você fica surpreso de saber que Benício
Guimarães não é ferreomodelista. É jornalista
profissional, autor do texto do catálogo
do Preserfe-RJ, e de Os 50
Anos da Eletrificação da EF Central do Brasil (Edição
CBTU, 1987). Merece especial destaque a colaboração do Preserfe,
ao permitir a reprodução de inúmeras fotografias
de seu arquivo (FRC).
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Benício Guimarães
"Benício Domingues Guimarães é jornalista e
profissional de relações públicas, atualmente desenvolvendo
atividades no Departamento de Comunicação Social da CBTU.
Militou em vários jornais do Rio de Janeiro e de São Paulo,
entre os quais O Jornal, Agência Meridional, O Estado de S. Paulo,
Tribuna de Santos, Revista Bancária e outros periódicos.
Estudioso e pesquisador da história ferroviária, é
autor da pesquisa e texto do catálogo 'Centro de Preservação
Ferroviária do Rio de Janeiro'. Pretende publicar, proximamente,
'O Brasil e o Trem – Pioneirismo Ferroviário'."
(Mini-biografia extraída de "Os
50 anos da eletrificação dos trens de subúrbios do
Rio de Janeiro - 1937-1987", CBTU, 1987)
Catálogos históricos
Estes livros devem ser procurados nos museus da antiga RFFSA (também
há uma coleção de postais)
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