EFMM - Estrada de Ferro Madeira Mamoré
Apontado "golpe da reativação"
A "armação de um grande
golpe" na EF Madeira-Mamoré foi denunciada
pelo
ferroviário aposentado Dionísio Shockness
—
que até Maio de 1991 foi diretor do Museu da Estrada de
Ferro —
em entrevista ao jornal "O Alto Madeira"
"O Alto Madeira" - Porto Velho, RO
Centro-Oeste nº 63 - 1º Fev. 1992
Recentemente, a Secretaria de Cultura e Turismo (Sect) fez publicar
um release nos jornais locais, acusando que o estado de abandono
em que encontrou o acervo da EF Madeira — Mamoré devia-se à falta
de apoio, e de uma administração digna de seu valor.
Para Dionísio Shockness, "isso é mentira, pois no meu tempo, com
poucos recursos, recuperamos a locomotiva n° 50 — substituindo sua
cabine e realizando serviços em sua caldeira e no tênder —, assim
como recuperamos a locomotiva n° 18 e estávamos trabalhando na recuperação
da locomotiva n° 15. Recuperamos todos os carros e possibilitamos
a reativação de 25 km da ferrovia, até o Teotônio".
"Com os Cr$ 100 que cobrávamos da passagem, deu para comprar lenha,
tinta, graxa, oxigênio e carbureto para manter o trecho reativado.
A ferrovia, enquanto atração turística, se paga, empatando entrada
com saída, pois os funcionários são pagos pelo governo".
Shockness lembra que, em sua administração, foram recuperados os
bueiros do Cai n'Água (km 2,5), do Bate-Estaca e do Teotônio, além
de comprar 500 dormentes de itaúba para reposição no leito da ferrovia.
Para o ferroviário aposentado, que entrou na companhia em 1934
— filho de outro ferroviário da época da construção, Charles Shockness,
nascido em Granada —, "os atuais administradores não fizeram nada,
pois a ferrovia estava em condições de operação. A primeira coisa
que fizeram foi desativar o trecho entre Porto Velho e o Teotônio".
Para Shockness, o que existe por trás dessa história toda "é a
armação de um grande golpe, pois estão pedindo uma fábula em dinheiro
para reativar os 25 km que — quando saí — deixei em perfeitas condições
de uso".
Promessa
Para Dionísio Shockness, "essa estória de reativar toda EF Madeira
— Mamoré até Guajará-Mirim é mentira". Seria necessário construir
outra estrada, em grande parte do percurso, pois o leito antigo
foi utilizado pela rodovia que liga Porto Velho a Guajará-Mirim.
Além disso, o governo do Estado não tem domínio nem posse sobre
o acervo da ferrovia, pois o inciso II do artigo 15 da Lei Complementar
41 — que criou o Estado de Rondônia e lhe transferiu os bens da
União — não foi regulamentado.
Na época do presidente Sarney, foi elaborado pelos ministros Mailson
da Nóbrega (Fazenda) e Reinaldo Tavares (Transportes) um projeto
de lei dispondo sobre a transferência do acervo da EFMM para o Estado
de Rondônia, mas Sarney saiu sem assinar e, até agora, o presidente
Collor também não assinou. O acervo ainda pertence à União.
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