D&MN RR — The Delrio and Midland Northern Railroad (II)
Conflitos
Alice Dorrit Folmer-Johnson
Centro-Oeste n° 88 (1°-Mar-1994)
Warren B. Delano é meu marido há um quarto de século. Embora nos tenhamos adaptado lindamente um ao outro, a concordância de nossas idéias
nem sempre é coisa garantida. É que... Mas vamos por partes.
Segundo a "política" de nossos governantes recentemente vinda à luz, é forçoso que as famílias se aglomerem o mais possível em menor número
de casas. Foi nosso caso. Com a vinda de dois familiares, urgia acrescer dois quartos para o aumento do número de ocupantes. E já que...
Agora um detalhe: — Construção e reforma de casas é assunto oneroso. Mas caro, mesmo, são os "jaquis".
A coisa é assim: — "Já que" estamos mexendo nisto, vamos aproveitar e...
Estão entendendo? Pois é isso: — "Já que" os dois quartos podiam ficar num sobrado, por que não fazer uma ampla sala embaixo?
Quando tudo estava pronto, obreiros e pintores dispensados (que alívio!), Warren e eu sentamos nos degraus da escada e ficamos olhando para
aquela maravilhosa sala.
Sonhávamos calados porque ninguém é louco de entregar a rapadura de cara, não é mesmo? Eu, mentalmente, já havia posto numa parede uma longa
mesa cercada de cadeiras confortáveis, uma bonita toalha sobre ela, e coberta de iguarias convidativas para uma reunião de família.
De repente pareceu-me ver uma loco HO puxando alguns carros, subindo uma rampa montanhosa e desaparecendo num túnel. Pensei estar ficando
doida, imaginando coisas.
Apagado o trem da minha mente, voltei à minha decoração e acomodei dois sofás, uma mesinha de canto com uma vaso de samambaias no centro.
Ficou lindo. Aí começaram a aparecer uns fios elétricos de variadas cores, num emaranhado infernal, enganchando nos móveis. O tapete que
eu acabara de colocar imaginariamente no chão foi sorrateiramente puxado e desapareceu. Um monte de tábuas e ripas empilhadas tomou seu lugar.
Lá já havia várias folhas com esquemas planejados para ferrovias, cuidadosamente consultadas por um Warren encimado por um boné da Estrada
de Santa Fé na cabeça.
Decididamente, eu estava com alucinações.
Apaguei tudo que não condizia com o ambiente de meus sonhos e comecei a pendurar umas cortinas de voil branco muito leves e flutuando em
frente da ampla janela que mandáramos colocar. Aí comecei a ouvir o barulho de trenzinhos e apitos.
Olhei para meu marido. Olhos fitos na sala, sorria de uma orelha à outra, beatificamente feliz.
Eu estava lendo os pensamentos dele.
Há muito tempo Warren vem tentando me convencer a fazer arvorezinhas. Fiz-me de surda porque meus interesses são outros. Quase me soterrou
com revistas que ensinavam a arte arborífera artificial em miniatura. Fugi como o diabo da cruz.
Warren tem estado muito ocupado e sua ferrovia não começou a ser montada ainda. Aí, eu tinha uns móveis sobrando... a sala estava dando sopa...
era gostoso ficar lá... Sacomé?
Agora não sei, não. Ultimamente Warren tem me cercado com "precisamos conversar" e estou ficando inquieta. Pensei no assunto mas o pé-direito
da sala não dá para fazer um mezanino.
O Centro-Oeste não está precisando de um colaborador mais ativo, que escreva muito mais artigos? Coisa assim, como em tempo
integral???
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