Flávio R. Cavalcanti — Centro-Oeste nº 70 (1º-Set-1992)Há exato 1/4 de século — em Setembro de 1967 —, o lançamento de uma "ponte metálica" HO de 165 mm, em kit para montar (ref. 1501 Frateschi), marcava mais do que a entrada de uma pequena empresa do interior, no mercado local de ferreomodelismo. Foi o início de um projeto muito sério, de criação e desenvolvimento do ferreomodelismo "brasileiro". Por "brasileiro", entendo o simples prazer de comprar ferreomodelos feitos aqui, de protótipos das ferrovias daqui. O simples prazer de estarmos conversando — sem esforço artificial — sobre os protótipos brasileiros, o fabricante e os micro-produtores brasileiros. Cobrando do Celso o lançamento da V-8 — apelido brasileiro de uma locomotiva da antiga Cia. Paulista —, verdadeiro desafio para o fabricante. Acompanhando a série do Kelso Médici sobre a construção do vagão caboose — 1° lugar num concurso de ferreomodelos "brasileiros", na I Mostra do Clube Paulista — que trafega regularmente com o trem de amônia, entre Santos e o Triângulo Mineiro. Senão, só poderíamos acompanhar — os que soubessem ler inglês — a conversa dos norte-americanos ou europeus, sobre os protótipos, concursos e fabricantes de lá. Sem entender as piadas, como quem "não faz parte". Sem compreender valores culturais que não são nossos. Uma fuga à realidade. Vivendo por empréstimo — em resumo — a vida alheia. Se, ao invés, estamos vivendo e discutindo a nossa realidade — quase sem darmos por isso —, não é mero acaso. Foi um projeto, concebido algum dia nas cabeças de Galileu e Celso Frateschi — possivelmente, com a contribuição de outros modelistas pioneiros — e, certamente, com o incentivo de muitos outros, como Alfredo Lupatelli, somente para citar um exemplo. E esse projeto foi colocado em prática, ao longo dos anos, com mais do que um orgulho exagerado — quase com soberba —, se considerarmos a desproporção entre o objetivo, e as ferramentas ridículas de que dispunha aquela pequena empresa do interior. O objetivo, se não foi atingido, está bem à vista. Se há 25 anos a coisa toda poderia parecer mirabolante, hoje não há mais como duvidar de sua realização. Esses 25 anos não foram uma fábula encantada. O fabricante brasileiro enfrentou a realidade comercial do dia-a-dia, e é compreensível que a realidade não tenha sido gentil, ao ponto dele poder seguir sempre o caminho ideal. Ressentimentos, impaciência, frustrações, antipatias e antagonismos surgiram, às vezes multiplicaram-se, entre os modelistas, revendedores. Nem sempre o texto da Frateschi primou pela sutileza, ou pelo caminho da naturalidade. Tem havido exageros na cobrança de fidelidade, puxões de orelha nada diplomáticos. Aqui e ali, um refrão, uma frase infeliz. Alguma fuga ao assunto, quando o tema é particularmente difícil de explicar — e quem explica, já entra em desvantagem. Colocado na balança — friamente, como será feito por outra geração —, o projeto concebido e realizado por Galileu e Celso Frateschi supera mil vezes os desencontros do dia-a-dia. A história do hobby no Brasil é um tema que sempre me fascinou. Por quê vivermos a contar e recontar uma história mal-copiada dos livros europeus e norte-americanos, quando um véu de mistério encobre — principalmente para o iniciante — até as 3 ou 4 décadas mais recentes do hobby no Brasil? Na realização de uma tarefa tão simples quanto a planejada postila "Material Atma — Completo" — que 13 pacientes mártires adquiriram em pré-lançamento, e até hoje não consegui cumprir minha parte —, deparei-me com a necessidade de pesquisar essas 3 ou 4 décadas mais recentes, sob pena de falar bobagem. Se eu já sabia que à Frateschi devemos a simples possibilidade do Centro-Oeste existir — e encontrar um círculo de leitores que permite sua sobrevivência e crescimento já há 8 anos —, nem por isso tinha uma visão clara do que significava, realmente, esse fato. Reunindo os dados para uma "história do hobby no Brasil" — escarafunchando a papelada, separando, anotando, fazendo perguntas —, acredito ter chegado a uma noção do que foi o nosso hobby, antes e depois da Frateschi. É um pouco dessa visão que espero poder passar aos amigos, ao iniciar — no 25° aniversário da Frateschi — a publicação dos dados que pude reunir até agora. Uma justa homenagem e, ao mesmo tempo, interessante para os companheiros mais novos no hobby. É também um pedido público de desculpas, aos companheiros que adquiriram em pré-lançamento a postila "Material Atma — Completo" e, até hoje, nada receberam. Uma forma de tentar saldar esse débito inaceitável do Centro-Oeste. Naturalmente, receberão o devido acréscimo em suas assinaturas, e — quando a postila for viável em off-set —, um exemplar da mesma. Desde já, agradeço a todos os amigos que, de uma forma ou de outra, contribuíram para que fosse possível a um iniciante de 1982, como eu, reunir tantas informações sobre o hobby nas décadas de 40 a 70. Seria impossível citar todos, e seria inevitável cometer algumas injustiças. Nem é preciso dizer, também, que toda correção, acréscimo de informações, será muito bem-vindo. Se há alguém que não posso deixar de citar — e ninguém se sentirá esquecido, por não ser citado ao lado dele —, esta pessoa é o Celso Frateschi, que teve a gentileza de encontrar tempo, entre seus inúmeros afazeres, para rever os originais dos 2 capítulos principais — corrigindo, confirmando, completando lacunas e acrescentando inúmeras informações. Para uma história do ferreomodelismo no Brasil
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