Em 29 Julho pp. [1995], deixei a razão de lado e finalmente adentrei a Montmar
Turismo em Angra, onde comprei, no cartão, quatro passagens para ir com
a família conhecer o Trem da Mata Atlântica. R$ 24,00 por pessoa sem almoço
(mais R$ 13,00), em dinheiro, cheque ou cartão.
Não há facilidades para almoço ou lanche em Lídice. A estação fica
afastada do centro da cidade, e não dá tempo para ir a pé, só de
taxi. Se não quiser almoçar, leve um lanchinho discreto, ou compre
a bordo misto-frio, cerveja, refrigerante e água.
Se resolver almoçar após o embarque, avise à moça. O almoço (frios)
é servido no carro restaurante em quatro horários: na ida os passageiros
dos dois carros da frente; e na volta (13h às 15h), os dos carros
da cauda.
No dia seguinte, às 10h, estava na estação para o embarque. Estacionamento
ao longo da Avenida Airton Senna, dos dois lados, em frente à estação
e à praia. A sala Vip e o trem estavam cheios. Parece que, felizmente,
os negócios vão bem.
Cada carro (4 + restaurante + 1 bagageiro que é usado como cozinha
e despensa) é identificado por uma cor, a mesma do bilhete de passagem,
o qual é dividido em três partes. Não perca, pois é necessário para
o embarque de volta em Lídice.
Recepcionistas, no embarque, em cada carro. Os lugares são numerados
como pares de um lado e ímpares do outro, corredor e janela. Por exemplo:
1C, 1J de um lado, do outro 2C, 2J.
O lado mais bonito é o esquerdo de quem sobe. E como o trem não vira,
em Lídice todos os números dos lugares, feitos em etiquetas removíveis,
são invertidos para que todos troquem de lado na volta.
Foto: Chuveirinho — antigo túnel, explodido devido às
explicáveis infiltrações de água. Notar
o pedaço de portal que restou à direita. Foto feita
pelo vidro da porta do último carro, que na ida era o primeiro.
Foto: Viagem de volta, com o paredão à esquerda.
Partida pontual às 10:30.
Boas-vindas e recomendaçõe gerais das moças, pelo sistema de som
(um por carro) como não fumar nem colocar o corpo ou coisas fora
das janelas — aviso importante para leigos, pois em muitos pontos
do trecho as pedras passam a dois dedos do carro. São distribuídas
recomendaçõe bilíngües.
Barulho de trem, cheiro de trem (principalmente dentro dos 15 túneis),
balanço de trem, janelas e paisagens de trem, jeito de trem. Perfeito
para quem gosta e para quem não conhece A menos que seja uma pessoa
muito... exigente, que só goste de ônibus-leito com ar condicionado.
Trem limpo, carros com banheiros em granito. Bancos de madeira
reversíveis com almofadas no assento e encosto. Carros de aço carbono
tipo Santa Matilde.
Logo após a saída, o túnel n° 1 e, em seguida, cruzamento por sobre
a BR-101 (Rio-Santos). Não se cruza com outros trens no percurso,
que é práticamente todo em linha singela.
Pelo sistema de som de cada carro, as ferreomoças passam informações
turísticas sobre a linha e a Mata Atlântica — como a de que a construção
começou em Barra Mansa em 1897 e terminou em 1928, para trazer café
para o porto; quais as cargas atualmente transportadas no trecho;
e que o tráfego regular de passageiros terminou em 1974.
Pelas datas nos portais dos túneis, crescentes em direção a Angra, houve
trechos que demoraram mais de um ano para ficar prontos.
Eram dezesseis túneis no trecho mas um foi explodido porque havia
muitas infiltraçõe e virou o atual chuveirinho.
A subida já se inicia na saída do pátio de Angra e a G-12 faz pouco
esforço — seja para puxar na subida, seja para segurar na descida.
Ao contrário da rodovia para Lídice — que vai pela planície até
ao pé da serra e começa a subir de repente — a linha, por motivos
óbvios, sobe sempre, contornando os maciços de rocha da Serra do
Mar, e poucos quilômetros depois a vista da baía da Ribeira, do
outro lado de Angra, já é linda — e só melhora.
Todos os pontos interessantes, como vales, vistas, cachoeiras,
viadutos, etc., são avisados pelas moças e o trem reduz a já baixa
velocidade para fotos e filmagens.
A linha é uma senhora obra de engenharia, que nos faz imaginar
o trabalho que deu fazer aquilo, no começo do século, com viadutos
de cal com óleo de baleia e pontes de aço rebitado. Os 46 quilômetros
são vencidos em 2h30, na velocidade turística de (?) km/h.
Não creio que os cargueiros que sobem, e mesmo os trens regulares
de passageiros, possam fazer melhor.
Não há paradas. No meio da serra, paramos rapidamente em Jussaral (por
causa da Jussara, palmeira de palmito em extinção), único cruzamento (linha
dupla), para avisar Angra de que havia alguém da região precisando de
ajuda médica na estação.
Algum idiota mandou demolir os prédios da pequena estação — não sei para
quê — e estão obedecendo.
Mais à frente, uma parada de cinco minutos para os fumantes fumarem nas
varandas dos carros, sem desembarque. Muita regulagem do pessoal do trem
— não gostam que se mude de carro ou se fique nas varandas. Devem ter
seus motivos.
Quase no alto da serra, uma reduzida no chuveirinho — com pouca água
nessa época — onde havia um túnel, e onde este trem parava. Parou de parar
porque pessoas escorregavam nas pedras e se machucavam. Esta parada faz
muita falta, para esticar as pernas e para fotos.
Logo depois, a estação de Alto da Serra, e começa a descida para Lídice,
que fica logo à frente. Agora, paisagem rural (com uma ou outra parabólica)
à direita.
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Estação de Lídice. À direita sinal de passagem
de nível e, ao fundo, a caixa d'água.
Em Lídice, parada de 40 a 50 minutos. Pequena feira em cobertura de metal,
com produtos típicos — goiabada, doce-de-leite, compotas, artesanato etc.
Todos desembarcam e a locomotiva manobra os carros restaurante e cozinha
para a cauda do trem. O pessoal de bordo troca a numeração e inverte os
bancos.
No terceiro apito inicia-se a volta, com mais informações do pessoal
de bordo, depois brincadeiras e sorteio de brindes para o pessoal não
dormir. Sem parada para fumantes. As 16h, chega-se à estação de Angra,
onde uma bandinha anima a chegada.