Flávio R. Cavalcanti — Centro-Oeste nº 74 (1º-Jan-1993)
Bitola — É a distância entre as faces internas dos trilhos, tanto na ferrovia-protótipo, como no ferreomodelismo. Escala — É a proporção em que os modelos são reduzidos, comparados ao tamanho de seus protótipos. É muito comum ouvirmos falar de "bitola HO", "bitola O" — e assim por diante. Então, "HO" é uma "escala" — ou é uma "bitola"?
Assim, podemos manter a comunicação tão exata quanto possível, sem complicá-la demais. |
|||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||||
| Diferentes "bitolas" na mesma "escala" | |||
|---|---|---|---|
| Protótipo | Escala HO — 1:87 | ||
| Bitola | Denominação | Bitola Teórica | Denominação |
| 0,609 m | 2 pés | 7 mm | HOn2 |
| 0,761 m | 2 1/2 pés | 8,75 mm (9 mm) | HOn2 1/2 |
| 0,914 m | 3 pés | 10,5 mm | HOn3 |
| 1,000 m | Métrica | 11,5 mm | HOm |
| 1,067 m | 3 1/2 pés | 12,25 mm (12 mm) | HOn3 1/2 |
| 1,435 m | Padrão | 16,5 | HO |
Então, por quê dizer que "HO é, antes de tudo, uma escala"?
1° — Porque nas ferrovias-protótipo existem bitolas fora do padrão internacional — e podemos reproduzir essas bitolas diferentes, dentro da mesma "escala HO".
As mais populares são as bitolas estreitas — narrow, em inglês. Assim, a denominação da "bitola" inclui a sigla "HO" + "n" minúsculo (de narrow) + a denominação da bitola-protótipo, geralmente em pés.
Para a bitola métrica — que não tem equivalente em pés —, usa-se um "m" minúsculo.
2° — Porque, às vezes, a "bitola" não corresponde à "escala". Por exemplo, os ingleses usam a "escala OO" — de 1:76,2 — com a "bitola HO" de 16,5 mm.
Quase todos os países adotaram o sistema métrico decimal, há muitas décadas: 1 m = 10 dm = 100 cm = 1.000 mm; e 1 km = 1.000 m; etc.
Mas nos EUA, só recentemente o sistema métrico — e/ou frações decimais de polegada (0,1''; 0,01'' etc.) — começaram a penetrar.
Para nós, uma escala 1:100 seria o paraíso — é fácil dividir por 100, no nosso sistema. Basta mover a vírgula.
Nossas ferrovias também usam bitolas "redondas" — 1,000 m, 1,600 m.
No sistema anglo-americano de medidas, 1 milha tem 1.760 jardas; a jarda tem 3 pés; 1 pé (1' = 30,48 cm) divide-se em 12 polegadas; e a polegada (1'' = 2,54 cm) divide-se pela metade (1/2'); pela metade da metade (1/4'); e assim por diante — 1/8'; 1/16'; 1/32'...
Dividir um pé por 100, não resultava em nenhum número "simples" para a cabeça de um americano tradicional. Parece 1/8'' — mas não é.
Além disso, a bitola-padrão internacional — que para nós é 1435 mm —, para ele, é de "4 pés e 8 polegadas e meia" (4' 8'' 1/2)
Dividimos 1435 / 100 de cabeça — basta mover a vírgula. Mas, tente dividir 4' 8'' 1/2 por 100 — de cabeça.
Por essa lógica, escalas anglo-americanas práticas seriam:
a) Frações usadas na régua de polegadas tradicional: — 1/16, 1/32, 1/64; e
b) Frações com divisor múltiplo de 12: — 1/24, 1/36, 1/48, 1/60, 1/72, 1/84, 1/96, 1/108, 1/120, 1/144, 1/180 etc.
Quase todas essas frações foram tentadas — com maior ou menor sucesso —, segundo o IF-27 (1983):
A escala "III" foi usada como 1:20; como 1:22,66; como 1:21,77; e também como 1:24. Neste último caso, 2 pés no protótipo darão 1 polegada no modelo (1' = 1/2''). Simples.
A escala "Standard", expressiva nos EUA até 1938, foi usada principalmente como 1:32.
A escala "I", na Inglaterra, valia 1:30,48; mas nos EUA, virou 1/32.
A escala "O" teve valores como 1:43,54 ou 1:45,17, e até 1:50. Mas nos EUA, tornou-se corrente como 1:48, ou... 4' no protótipo = 1'' no modelo (1' = 1/4''). Simples!
A escala "S", na Europa, era 1:65. Mas nos EUA, American Flyer, da Gilbert, popularizou-a como 1:64.
Existiram nos EUA 2 escalas raras — "E" e "QO" — de 1:96. É a metade de 1/48 (1' = 1/8'').
A escala "TTX" foi uma tentativa de 1:108 (ou 9' = 1'').
Na escala "TT", de 1:120, cada 10 pés no protótipo dão 1'' no modelo.
A escala sueca "HOO", de 1:144, significa que 12' = 1''.
A escala "N" de 1:160 equivale a 1/10 do popular 1/16 da régua de polegadas. Ou, 10'' =1/16''.
Na escala "K" (1:180), usada somente na Europa, 15' = 1''.
| Escalas e Bitolas — Informativo Frateschi n° 11 (1980) | |||||
|---|---|---|---|---|---|
| Escala | Bitola Padrão |
Bitolas Estreitas |
Observações | Começou em... |
|
| Nome | Proporção | ||||
| III | 1:20 | 75 mm |
|
Fora de produção |
|
| IIa | 1:22 | 64 mm |
|
Fora de produção |
|
| II | 1:28 | 51 mm |
|
Fora de produção |
|
| I | 1:32 | 45 mm |
|
Usada praticamente como brinquedo (*) |
|
| O | 1:45 | 32 mm |
|
Esteve em baixa e voltou recentemente |
|
| S | 1:64 | 22 mm |
|
"S" de "Scale" (Escala) — Fora de produção |
|
| OO | 1:75 | 19 mm |
|
Precursor do HO — Em extinção (**) |
|
| HO | 1:87,1 | 16,5 mm |
10 mm 9 mm |
"Half-O" (Metade-de-O) |
|
| TT | 1:120 | 12 mm |
|
"Table Top" (Sobre a Mesa) |
|
| N | 1:160 | 9 mm |
|
N" de "Nove Milímetros |
|
| Z | 1:220 | 6,5 mm |
|
Z" de "Final do Alfabeto |
|
| N. R.: Este quadro é simples e muito claro, mas não o leve rigorosamente ao pé da letra, pois bitolas e escalas em ferreomodelismo são tudo, exceto "simples e claras" (FRC). | |||||
| (*) — A bitola de 45 mm voltou a ser bastante popular nos EUA, ultimamente, sob o nome de "Escala G". Na realidade, é uma denominação ampla e imprecisa, abrangendo 8 escalas diferentes. Ver CO-66/13 (FRC). | |||||
| (**) — A escala "OO" não está em extinção, sendo ainda hoje a "escala nacional britânica", com produtores importantes, como Hornby, Peco e Airfix, além da italiana Lima e a americana Bachmann. A redução é de 1:76,2 e a bitola usada é a mesma HO de 16,5 mm — evidentemente fora de escala (FRC). | |||||
Observe que — enquanto nossa tendência é fazer a divisão —, para o anglo-americano era mais simples definir uma proporção: — "X pés no protótipo darão Y polegadas no modelo".
Assim foi recalculada a escala HO, nos EUA, para adaptar-se à bitola, que a Märklin alemã havia aumentado de 16 para 16,5 mm (ver CO-72/4).
Porém, não havia uma fração simples de polegada, para corresponder a 1 pé do protótipo. Podia-se chegar a algo como 35/256 de polegada, ou pior.
A solução encontrada foi atribuir uma proporção de 3,5 milímetros no modelo, para cada pé no protótipo:
3,5 mm / 1' (304,8 mm) = 1:87,1
Essa mistura de dois sistemas — anglo-americano e métrico decimal — acabou tornando-se a escala dominante no mundo inteiro, exceto Inglaterra (OO) e Japão (N).
Na Inglaterra, a escala "OO" terminou sendo definida na proporção de 4 milímetros no modelo para cada pé no protótipo:
4 mm / 1 pé (304,8 mm) = 1:76,2
Como se vê, as escalas no ferreomodelismo — "HO" em especial — derivam muito mais de fatos consumados (frequentemente por vias tortas), do que de algum plano racional.
O resultado foi essa proporção incrível, de "1:87", que para nós é chata de calcular, até mesmo no papel. Felizmente, hoje qualquer um pode ter uma calculadora no bolso.
Podia-se esperar que a escala "TT" fizesse mais sucesso — é prático transformar 10 pés em 1 polegada. E, como notava Jô (CO-72/4), é muito mais adequada para mesa, do que o "HO".
Suponho que a escala "TT" chegou tarde, como diz o artigo do Jô — embora não tanto como na tabela do IF-11, provavelmente baseada em fontes européias, onde "TT" chegou depois.
Existe uma relação custo / benefício, na hora de milhares de modelistas decidirem se trocam ou não de escala.
É necessário que haja uma diferença razoável, entre a antiga e a nova opção, para compensar o custo.
Além disso, tamanhos parecidos concorrem pelo mesmo público. A tendência tem sido a de sobreviverem apenas algumas escalas, bem distanciadas umas das outras.
É uma necessidade para a indústria — maior mercado nas escalas sobreviventes —; e para o modelista — maior variedade nas escalas sobreviventes.
A pesquisa de mercado da Model Railroader entre 1936 e 1947 é muito sugestiva, quanto a essa concentração.

Em 1936, das escalas grandes restava apenas a "O", dominando 58% das preferências. Das médias, brigavam entre si apenas "HO" e "OO".
Até 1939, a queda do "O" é o espelho do crescimento de "OO"
Daí por diante, é o espelho do crescimento de "HO".
A escala "O" cai para 50% em 1937 e perde a maioria em 1938 (48,6%).
A escala "HO" ganha maioria em 1942 (53,5%). Desde então, é a escala dominante, já há 1/2 século.
Surgem na pesquisa 2 novas escalas — em 1941, a "S" (maior que OO) — e em 1947, a "TT" (menor que HO).
Isso embolou o meio de campo. De 1:64 até 1:120 — o dobro e a metade, uma da outra —, havia nada menos do que 4 escalas disputando mercado.
Na ficha de pesquisa de 1947, um leitor incluiu a observação:
- "Bitolas demais. Ou "HO", ou "OO", devia ser eliminada".
Outro leitor, também em 1947:
- "O motor de 3 polos devia ser banido do hobby".
Bibliografia A Gretoeste: a história da rede ferroviária GWBR - 25 Abr. 2016 Índice das revistas Centro-Oeste (1984-1995) - 13 Set. 2015 Tudo é passageiro - 16 Jul. 2015 The tramways of Brazil - 22 Mar. 2015 História do transporte urbano no Brasil - 19 Mar. 2015 Regulamento de Circulação de Trens da CPEF (1951) - 14 Jan. 2015 Batalhão Mauá: uma história de grandes feitos - 1º Dez. 2014 Caminhos de ferro do Rio Grande do Sul - 20 Nov. 2014 A Era Diesel na EF Central do Brasil - 13 Mar. 2014 Guia Geral das Estradas de Ferro - 1960 - 13 Fev. 2014 Sistema ferroviário do Brasil - 1982 - 12 Fev. 2014 |
Ferrovias Estrada de Ferro Goiás - 30 Jul. 2018 Locomotiva GE U23C nº 3902 RFFSA - 8 Out. 2017 Trem Vitória - Belo Horizonte - pontos de venda - 2 Out. 2017 Horários do Trem Vitória - Belo Horizonte - 28 Set. 2017 Litorinas Budd RDC no Brasil - 27 Set. 2017 Trem das Águas - ABPF Sul de Minas - 15 Set. 2017 Fases de pintura das locomotivas English Electric EFSJ / RFFSA - 2 Mai. 2017 A Velha Senhora no trem da Luz a Paranapiacaba (1985) - 22 Fev. 2017 Horários do Trem turístico S. João del Rei - 6 Dez. 2016 Trens especiais Curitiba - Pinhais (1991) - 29 Nov. 2016 Trem turístico a vapor Curitiba - Lapa (1986) - 26 Nov. 2016 Os “antigos” trens turísticos a vapor da RFFSA - 21 Nov. 2016 |
Ferreomodelismo Backlight em maquetes de ferreomodelismo - 5 Nov. 2017 Luzes de 0,5 mm (fibra ótica) - 2 Jun. 2016 Vagão tanque TCQ Esso - 13 Out. 2015 Escalímetro N / HO pronto para imprimir - 12 Out. 2015 Carro n° 115 CPEF / ABPF - 9 Out. 2015 GMDH-1 impressa em 3D - 8 Jun. 2015 Decais para G12 e C22-7i MRN - 7 Jun. 2015 Cabine de sinalização em estireno - 19 Dez. 2014 Cabine de sinalização em palito de fósforo - 17 Dez. 2014 O vagão Frima Frateschi de 1970 - 3 Jun. 2014 Decais Trem Rio Doce | Decais Trem Vitória-Belo Horizonte - 28 Jan. 2014 Alco FA1 e o lançamento Frateschi (1989) na RBF - 21 Out. 2013 |
Ferreoclipping Livro sobre a GWBR em João Pessoa e Recife - 12 Mai. 2016 Museu Ferroviário de Natal - 25 Abr. 2016 Passagens e calendário do trem turístico Ouro Preto - Mariana | Percurso - 20 Dez. 2015 Passagens e descontos do Trem do Corcovado | Onde comprar - 12 Dez. 2015 Estação Pirajá completa a Linha 1 do Metrô de Salvador - 28 Nov. 2015 Metrô DF direciona 2/3 dos trens para a Ceilândia - 27 Ago. 2015 EF Campos do Jordão | Horários | Hospedagem - 15 Jul. 2015 Programação de Corpus Christi nos trens turísticos da ABPF Sul de Minas - 25 Mai. 2015 Passagens do trem para Vitória esgotam-se 15 dias antes do feriado - 22 Mar. 2015 |
Bibliografia A Gretoeste: a história da rede ferroviária GWBR - 25 Abr. 2016 Índice das revistas Centro-Oeste (1984-1995) - 13 Set. 2015 Tudo é passageiro - 16 Jul. 2015 The tramways of Brazil - 22 Mar. 2015 História do transporte urbano no Brasil - 19 Mar. 2015 Regulamento de Circulação de Trens da CPEF (1951) - 14 Jan. 2015 Batalhão Mauá: uma história de grandes feitos - 1º Dez. 2014 Caminhos de ferro do Rio Grande do Sul - 20 Nov. 2014 A Era Diesel na EF Central do Brasil - 13 Mar. 2014 Guia Geral das Estradas de Ferro - 1960 - 13 Fev. 2014 Sistema ferroviário do Brasil - 1982 - 12 Fev. 2014 |
|
|
|
| Ferrovias | Mapas | Estações | Locomotivas | Diesel | Vapor | Elétricas | Carros | Vagões | Trilhos Urbanos | Turismo | Ferreomodelismo | Maquetes ferroviárias | História do hobby | Iniciantes | Ferreosfera | Livros | Documentação | Links | Atualizações | Byteria | Mboabas | Brasília | Home |