Planos Ferroviários
Navegação fluvial nos planos de viação
Flavio R. Cavalcanti
Tal como a viabilidade econômica das ferrovias, a das hidrovias
fundamentou-se — do Império até o final da primeira
República — em argumentos grandiloqüentes declarando
que "immensas riquezas" brotariam desta ou daquela
"feracíssima região", tão
logo fosse "aberta ao commércio" por tal
ou qual "caminho aperfeiçoado".
Sem a prática de capitalistas experientes em avaliar
custos e benefícios, um projeto se poderia considerar bem
recomendado se tais afirmações partissem, não
de um bacharel formado em direito pelas faculdades do Recife ou
de São Paulo — que competiam com a faculdade de medicina
da Bahia pelo brilhantismo na oratória —, mas por um engenheiro
formado na Politécnica do Rio de Janeiro e que já
houvesse lidado, pelo menos algumas vezes, com a prática
de custos, administração e logística de obras
de algum vulto.
Além disso, as informações disponíveis
sobre o relevo, o solo e os rios do interior mais distante dependiam
dos relatos de poucos exploradores — às vezes, décadas
antes —, cujas expedições em geral não dispuseram
de instrumentos de medição, nem permaneceram tempo
suficiente para avaliar o volume das águas ao longo dos meses.
Assim, a navegabilidade dos rios incluídos nos diversos
projetos era, no mínimo, bastante relativa.
O Tocantins, por exemplo
— fundamental para o eixo central norte-sul de vários planos
— mostrou-se inviável apenas 10 anos depois de iniciadas
as tentativas de navegação a vapor. O próprio
Araguaia, em terrenos mais planos, verificou-se que exigiria alguns
trechos ferroviários — e baldeações — para
ligar Belém ao sul de Goiás.
Da mesma forma, o eixo norte-sul da fronteira oeste — aproveitando
os rios Paraguai, Cuiabá, Guaporé, Mamoré e
Madeira — mostrou-se mais um exercício de imaginação,
do que realidade prática. A navegação do rio
Paraguai teve importância considerável, via Buenos
Aires. O trecho dos rios Madeira e Mamoré perdeu importância
pouco depois de inaugurada a EF Madeira-Mamoré.
A navegação do Tietê-Alto Paraná veio
se consolidando — em trechos maiores, e em melhores condições
— pela instalação de eclusas nos sucessivos represamentos
para geração de eletricidade, em especial a partir
da década de 1950. Trata-se de um projeto de várias
gerações, e que tem tido continuidade através
de diferentes governos e regimes políticos.
A hidrovia gaúcha recebeu investimentos consideráveis
durante o regime militar de 1964-1985, juntamente com o superporto
de Rio Grande.
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