1854-2004 - Planos Ferroviários
Ferrovias & Estados
Flavio R. Cavalcanti
O mapa político evidencia o poder que definiu a implantação
de cada grupo de ferrovias: café em São Paulo,
norte do Paraná, Rio de Janeiro e parte de Minas Gerais;
peso político e importância estratégica
no Rio Grande do Sul; peso político em outras regiões
de Minas Gerais; estratégia e diplomacia em
Rondônia, Mato Grosso do Sul e EF São Paulo – Rio Grande
(depois RV Paraná – Santa Catarina, substituída pelo
Novo Tronco Sul nos governos de 1964-1985); mineração
na EF Carajás, na EF Vitória a Minas, na EF Amapá
e na EF Trombetas; celulose na EF Jari; borracha na
Fordlandia; cacau na EF Ilhéus; soja
na Ferronorte.
A Ferrovia do Aço, embora associada à mineração,
foi decidida em função da indústria
siderúrgica — e é interessante observar que sua implantação
(prevista para ocorrer em 1.000 dias) arrastou-se por duas décadas.
Afinal foi colocada em operação em via singela e movida
a diesel — pelo "projeto" inicial, teria via dupla, totalmente
eletrificada — tornando-se, na prática, apenas uma onerosa
duplicação da antiga Central do Brasil. A duplicação
e melhoria da Central, propriamente dita, era a alternativa defendida
por técnicos e engenheiros que criticavam o mega-projeto
da Ferrovia do Aço.
A EF Bahia–Minas (isolada até a erradicação)
surgiu em conexão com um projeto de colonização
do tempo do Império. Em Santa Catarina, a colônia alemã
construiu uma pequena ferrovia de penetração.
Até a década de 1980, o Paraná — com pouco
peso político — não conseguiu sequer tornar o oeste
do Estado tributário de seu próprio porto (Paranaguá);
e Santa Catarina pouco mais teve do que um corredor de passagem.
Os demais Estados, a custo, asseguraram pequenos retalhos.
No Nordeste, o desenvolvimento das poucas ferrovias esteve associado
a momentos específicos da República — inclusive períodos
militares e/ou alianças com o Rio Grande do Sul — como a
presidência do paraibano Epitácio Pessoa, do gaúcho
Hermes da Fonseca, os governos Vargas e os governos militares de
1964-1985.
O resultado — mesmo com novas interligações — dificilmente
poderia ser considerado uma rede de transportes.
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