Flavio R. CavalcantiAo integrar ferrovia e navegação fluvial para conectar todas as regiões do Império, o Plano Bicalho parece abusar das baldeações (do trem para o barco, do barco para o trem), e gerar uma série de zig-zags que alongam os trajetos — para minimizar o investimento (pesado) em vias férreas. O que muitas vezes não fica claro nas resenhas de planos ferroviários, é que propunha essas poucas ferrovias — "convenientemente traçadas em posição das grandes linhas futuras" — apenas para começar:
Mais do que o primeiro esboço do Plano Ramos de Queiroz, a proposta do engenheiro Honório Bicalho — chefe da Diretoria de Obras Públicas (da Secretaria de Estado), dirigindo-se ao ministro e, através dele, ao Parlamento — teria de ser absolutamente realista. Nessa adequação ao ambiente burocrático, político e financeiro residiria qualquer chance de ser oficialmente adotado (não foi) e, eventualmente, criar condições para futuros planos com maior número e extensão de vias férreas.
Ao aproveitar os eixos de navegação norte-sul (já apontados em outros planos), em articulação com as ferrovias para formar troncos iniciais (e não uma rede final), universaliza uma orientação geral sudeste-noroeste — quebrada (talvez como lembrete), apenas pela "transamazônica" baiana. Outras ferrovias leste-oeste ficam apenas possibilitadas, pela posição dos entroncamentos e por alguns trechos aqui e ali (como a linha Pirapora - Mato Grosso). Mais do que a simples economia de trechos ferroviários, é possível que os zig-zags e a orientação geral sudeste-noroeste derivassem de considerações de política provinciana:
A economia de trilhos se faz, portanto, local de transação política provinciana. Persistem:
E surgem os traços iniciais de alguns troncos:
Segundo Nascimento Brito, Bicalho apresentou o seu parecer em 6 de dezembro de 1881. É desta fonte a transcrição do trecho: Para fixação completa e definitiva deste plano faltam, sem dúvida, detalhes; grande parte do território brasileiro acha-se ainda quase inteiramente inexplorado. Dada a vastíssima superfície do território brasileiro e a pequena densidade de sua população, disseminada com grandes extensões de permeio, quase completamente despovoadas, não será economicamente prático pretender-se dotar imediatamente o País de grandes linhas-troncos no sistema aperfeiçoado de viação. Por outro lado, acham-se grandes extensões do território cortadas por verdadeiros caminhos naturais, que oferece a navegabilidade de muitos rios majestosos que possui o Brasil. Assim como o Amazonas, que serve perfeitamente o extremo norte do Império, e o Paraguai e o Uruguai, que servem as fronteiras do sul e do sudoeste, possui o Brasil três magníficas bacias de navegação interior, nos rios Tocantins e Araguaia, no rio S. Francisco e no alto Paraná e seus afluentes. O primeiro meio que mais naturalmente se apresenta para vencer as grandes distâncias que quase isolam as diversas províncias do Império é utilizar a navegabilidade natural e aperfeiçoada dos rios mencionados e de seus afluentes, ligá-los por meio de estradas de ferro convenientemente traçadas em posição das grandes linhas futuras e formar assim as primeiras linhas gerais mistas de viação a vapor, que atuem como grandes artérias para levar o movimento da vida intelectual e o impulso dos capitais a todos os pontos do gigantesco corpo do Brasil. Desenvolver-se-ão as indústrias e o comércio, os interesses crescerão e, à medida que forem progredindo, irão as linhas de comunicação geral se retificando e aperfeiçoando, de modo a achar-se, por meio de transformações progressivas, estabelecida finalmente a rede férrea que enlaçará inteiramente todas as províncias e as tornará inseparáveis na comunhão brasileira.
Planos ferroviários
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