|
|
Ferrovias brasileiras em 1954: mapas e informações
|
|
Nenhuma alteração física foi feita na Estrada de Ferro do Corcovado, desde a época da eletrificação (1909-1910) até cerca de 1952, data de alguns textos que compõem o livro do IBGE / CNG. A rigor, portanto, as informações de 1954 seriam as mesmas de 40 anos antes.
Moacir M. F. Silva, cujo texto traz os mapas de 1954, diz pouco sobre a ferrovia:
«Ferrovia turística, com 3,8 quilômetros, indo da estação Cosme Velho, na rua das Laranjeiras, à do Corcovado, na montanha desse nome. Está sob a administração da Cia. Carris Luz e Força (Light)».
Bem mais detalhadas são as informações contidas no texto de Flavio Vieira porém devem-se ressalvar alguns erros, destacados abaixo em marcador amarelo:
«A menor estrada de ferro do Brasil fica no Distrito Federal, dentro da cidade do Rio de Janeiro. É a E. F. Corcovado, com a extensão de 3,824 quilômetros, que se desenvolvem na encosta da montanha que lhe dá o nome, partindo das Águas Férreas, nas Laranjeiras, até o alto cume que ostenta a imagem do Cristo Redentor, a 700 metros de altura. Há quem entenda não ser ela propriamente uma ferrovia, mas uma linha de bondes elétricos, como a de Guarujá, na ilha deste nome em São Paulo.
«Todavia, a Corcovado é classificada como caminho de ferro e, como tal, fiscalizada pelo Departamento Nacional de Estradas de Ferro.
(...)
«A linha, em cremalheira, na bitola de 1 metro, rampas até 75% e curva mínima de 30 metros, apresenta cortes de mais de 18 metros de altura e atravessa um grande viaduto metálico, com 170 metros, para alcançar o Silvestre.
«O sistema de tração é o elétrico, sendo proprietária da estrada a Companhia "Light and Power", que introduziu esse sistema (a tração primitiva era a vapor), depois de conseguir, em 22 de maio de 1906, a transferência da concessão para si» [p. 130-131].
Está fora de dúvida que nunca existiram rampas até 75%, e tampouco curva mínima de 30 metros na EF do Corcovado.
Declividades de até 75% são um absurdo evidente; e todas as fontes têm frisado que as curvas têm um só raio, de 120 metros. Não máximo, nem mínimo. Um só raio.
Curiosamente, o texto de Flavio Vieira (ou sua fonte de consulta) parece ter servido de base à descrição publicada no suplemento Estradas de ferro do Brasil (RF) de 1960, apenas corrigindo a declividade máxima para um número mais aceitável mas, igualmente, errado:
«A relação oficial das ferrovias nacionais compreende a Estrada de Ferro Corcovado, situado no estado da Guanabara. A Corcovado, entretanto, não passa de uma linha de bondes elétricos, destinada a transportar passageiros, para finalidades turísticas. Estende-se pela encosta do morro que dá o nome, em uma linha de cremalheira que apresenta muitas curvas e raios de 30 metros e rampas de 7%. Sua bitola é de 1,00 metro. Mede apenas 4 quilômetros».
Observe-se num e noutro texto o mesmo questionamento quanto a se tratar de uma ferrovia, ou mera linha de bonde; bem como, a mesma expressão sobre o trajeto pela encosta do morro que lhe dá o nome, o que reforça a probabilidade de um texto ter servido de consulta para o outro, ou ambos terem consultado uma mesma fonte.
A conferir, na história das denominações locais do Rio de Janeiro, o ponto inicial atribuído por Flavio Vieira partindo das Águas Férreas, nas Laranjeiras. O levantamento de 1907 cita Cosme Velho, nas Laranjeiras; porém ainda não encontrei uma definição exata da localização ou abrangência das Águas Férreas. Uma planta da ferrovia, do final do século XIX, situa Água Férrea (no singular) a boa distância da estação do Cosme Velho. Por outro lado, a linha de bondes talvez terminasse na estação do Cosme Velho, segundo imagino, uma vez que ali fazia manobras.
Demerval Pimenta também oferece bastante informações sobre a Estrada de Ferro do Corcovado a primeira ferrovia eletrificada no Brasil, e uma das primeiras no mundo. Não chega a citar raio de curva, porém diz o mesmo que quase todas as demais fontes: “Há um trecho nesta Estrada com rampa de 30%, sendo de 4% a declividade mínima de suas linhas”. Para maior clareza: não existia nenhum trecho nivelado (sem inclinação) na ferrovia.
O foco de Demerval Pimenta é a eletrificação, mas também traz outros dados importantes, não só da década de 1950, como de sua história:
A ferrovia turística foi totalmente deficitária desde a inauguração, em 1884, até 1905, inclusive. Estava em situação precária quando a The Rio de Janeiro Tramway Light & Power Co. Ltd. obteve autorização [Decreto nº 6.040, de 22 Mai. 1906] para comprá-la, visando aproveitar nela o excedente de energia da usina hidrelétrica em construção no Ribeirão das Lajes (RJ).
A 5 de Julho de 1906, [a Light] fez a apuração de todos os bens e concessões da antiga concessionária, Cia. Ferro Carril e Hotel Corcovado, tendo pago, por todos esses bens e concessões, a quantia de Cr$ 250.000,00 [Na verdade, 250:000$000, ou 250 contos de réis].
A 20 Ago. 1906, a Light assinou o Termo de Transferência da concessão no Ministério da Viação / Ministério da Agricultura, comprometendo-se a eletrificar a ferrovia.
A hidrelétrica de Ribeirão das Lajes foi oficialmente inaugurada em 14 Fev. 1908.
Em 27 Ago. 1909 a Light assinou Termo de Acordo (idem) comprometendo-se a investir até o limite de 410:300$ na eletrificação.
As obras de eletrificação da Estrada de Ferro do Corcovado foram concluídas em 1910, e a tração foi inaugurada em fins do mesmo ano.
Alguns dados de Demerval Pimenta atualizados até o ano de 1952:
«Locomotivas e carros Dispõe, atualmente, de 4 locomotivas elétricas, rebocando, cada uma, um carro para 55 passageiros. As locomotivas têm o peso de 16.500 quilogramas, o esforço de tração, no engate do tênder, de 8.422 quilogramas e uma potência de 310 HP.
«Resultados econômicos A exploração desta Estrada que, desde o ano de sua inauguração em 1884, era deficitária, ofereceu, logo no primeiro ano de sua eletrificação, um saldo positivo de Cr$ 10.502,51. Nos últimos anos, porém, está vivendo novamente no regime deficitário.
«Dados estatísticos No primeiro ano da eletrificação, em 1911, correram 4.979 trens, transportando 47.919 passageiros contribuintes e, em 1952, correram 5.516 trens, com o transporte de 407.085 passageiros, incluindo-se os empregados da Companhia. Esses trens elétricos, em 1952, consumiram 328.992 kWh».
Chama atenção ter tido lucro já no primeiro ano após a eletrificação (1911), transportando, em média, menos de 10 (!) passageiros por trem. A literatura encontrada produzida pela Light ou influenciada por ela costuma sugerir que foi fruto da maior economia da tração elétrica, eficiência etc., mas talvez seja interessante conferir isso em detalhe.
Observe que a média de 1952 daria quase 74 passageiros por trem, o que supera a capacidade declarada. Uma possibilidade, é que a Light aceitasse superlotação, de bom grado. Outra possibilidade, é que nessa época se contassem separadamente as passagens de ida e de volta [Isto reduziria a média para quase 37 passageiros por trem. Se o mesmo critério valesse para 1911, a lotação média daquele ano cairia para menos de 5 passageiros por trem. Portanto, é preciso cuidado com eventuais mudanças de critério].
Isto é possível, se observamos a existência de três paradas (não declaradas) próximas ao ponto inicial, e antes do Morro do Inglês (km 0,850), utilizadas por moradores locais em sentido oposto aos turistas: descendo para a cidade num primeiro momento, e mais tarde voltando a subir algumas centenas de metros até suas casas.
Fica patente que até os melhores autores muitas vezes sujeitos a múltiplas atividades, e prazos às vezes apertados estão sujeitos a cometer falhas gritantes, ao tentarem compilar uma massa considerável de informações, sobre grande número de ferrovias.
Não existe garantia, sequer, de que todos os dados tenham por base o mesmo ano que, como vimos, é o de 1952 para boa parte do conteúdo do livro, publicado pelo IBGE / CNG com data de1954.
O mapa (abaixo) é bastante primitivo. É possível que esteja completamente errado.
Bibliografia A Gretoeste: a história da rede ferroviária GWBR - 25 Abr. 2016 Índice das revistas Centro-Oeste (1984-1995) - 13 Set. 2015 Tudo é passageiro - 16 Jul. 2015 The tramways of Brazil - 22 Mar. 2015 História do transporte urbano no Brasil - 19 Mar. 2015 Regulamento de Circulação de Trens da CPEF (1951) - 14 Jan. 2015 Batalhão Mauá: uma história de grandes feitos - 1º Dez. 2014 Caminhos de ferro do Rio Grande do Sul - 20 Nov. 2014 A Era Diesel na EF Central do Brasil - 13 Mar. 2014 Guia Geral das Estradas de Ferro - 1960 - 13 Fev. 2014 Sistema ferroviário do Brasil - 1982 - 12 Fev. 2014 |
Ferreoclipping Livro sobre a GWBR em João Pessoa e Recife - 12 Mai. 2016 Museu Ferroviário de Natal - 25 Abr. 2016 Passagens e calendário do trem turístico Ouro Preto - Mariana | Percurso - 20 Dez. 2015 Passagens e descontos do Trem do Corcovado | Onde comprar - 12 Dez. 2015 Estação Pirajá completa a Linha 1 do Metrô de Salvador - 28 Nov. 2015 Metrô DF direciona 2/3 dos trens para a Ceilândia - 27 Ago. 2015 EF Campos do Jordão | Horários | Hospedagem - 15 Jul. 2015 Programação de Corpus Christi nos trens turísticos da ABPF Sul de Minas - 25 Mai. 2015 Passagens do trem para Vitória esgotam-se 15 dias antes do feriado - 22 Mar. 2015 |
Byteria |
Ferrovias Estrada de Ferro Goiás - 30 Jul. 2018 Locomotiva GE U23C nº 3902 RFFSA - 8 Out. 2017 Trem Vitória - Belo Horizonte - pontos de venda - 2 Out. 2017 Horários do Trem Vitória - Belo Horizonte - 28 Set. 2017 Litorinas Budd RDC no Brasil - 27 Set. 2017 Trem das Águas - ABPF Sul de Minas - 15 Set. 2017 Fases de pintura das locomotivas English Electric EFSJ / RFFSA - 2 Mai. 2017 A Velha Senhora no trem da Luz a Paranapiacaba (1985) - 22 Fev. 2017 Horários do Trem turístico S. João del Rei - 6 Dez. 2016 Trens especiais Curitiba - Pinhais (1991) - 29 Nov. 2016 Trem turístico a vapor Curitiba - Lapa (1986) - 26 Nov. 2016 Os “antigos” trens turísticos a vapor da RFFSA - 21 Nov. 2016 |
Byteria |
|
|
Ferrovias | Mapas | Estações | Locomotivas | Diesel | Vapor | Elétricas | Carros | Vagões | Trilhos Urbanos | Turismo | Ferreomodelismo | Maquetes ferroviárias | História do hobby | Iniciantes | Ferreosfera | Livros | Documentação | Links | Atualizações | Byteria | Mboabas | Brasília | Home |